Projeto de Moda transforma vivências de Escola Básica em expressão artística

Identidade Criativa

Chapecó, 18 de julho de 2025 - Pensar a moda como linguagem de troca e escuta foi o ponto de partida da ABEx III – Laboratório Experimental de Moda do curso de Moda. Neste semestre, o projeto atuou como espaço de experimentação criativa, articulação comunitária e construção de identidades. Com o tema ‘Identidades Vestíveis – Moda no Espaço Escolar, a proposta desafiou os acadêmicos a atuarem em territórios educativos não convencionais, em parceria com a Escola Básica Municipal em Agropecuária Demétrio Baldissarelli, conectando processos criativos à realidade da educação do campo.

A proposta teve como ponto de partida uma troca sensível entre as turmas de Artesanato da escola parceira (compostas por crianças do 1º ao 5º ano) e os estudantes do 3º período de Moda. Através de cartas manuscritas e tecidos estampados com técnicas como monotipia e carimbo, as crianças compartilharam fragmentos de suas vivências no campo. Esses materiais foram recebidos pelos acadêmicos como base para o desenvolvimento de parangolés e sulancas, peças vestíveis que misturam arte, movimento e expressão identitária.

24 estudantes foram envolvidos no projeto.

De acordo com o professor Audrian Cassanelli, responsável pelo componente curricular, a ideia para a realização da ABEx em parceria com a EBM surgiu quando recebeu a proposta para ministrar a matéria. Audrian é professor da Escola há três anos e viu no cotidiano de seus alunos uma experiência diferenciada para apresentar à Universidade.

“Vi ali a possibilidade de uma parceria inovadora, pois quando falamos de atuação de profissionais de Moda, escolas não são a primeira alternativa que vem à mente. O professor Rafael Felipe da Silva, que atua no curso de Moda a mais tempo que eu, foi essencial no processo, me auxiliando a pensar e desenhar como seria essa proposta com a instituição educacional”, conta.

Ao longo do componente, os estudantes passaram por etapas que incluíram leitura sensível das cartas, pesquisa temática, desenvolvimento de técnicas artesanais, elaboração de moodboards e criação dos parangolés/sulancas. A experimentação com materiais como látex líquido, placas de gel, tecidos e imagens transferidas possibilitou uma produção autoral, ao mesmo tempo que dialogava com os relatos das crianças. Foram criadas 20 obras vestíveis que traduziram, de forma poética e visual, a relação entre moda, identidade e território.

“Um projeto como esse ajuda a ampliar a visão do futuro profissional, ao mostrar que a área de atuação pode ser muito mais ampla do que ele imagina. Que o profissional de Moda pode atuar junto a uma escola, organizar eventos e até mesmo estar em uma galeria de arte. Desenvolve habilidades de trabalho em equipe, escuta ativa e resolução de problemas, pois os coloca frente a situações reais, o que contribui para a formação de um profissional mais dinâmico,  atento e capacitado”, aponta o professor.

Os 24 estudantes envolvidos produziram, além das peças, 18 textos críticos que demonstram o amadurecimento no olhar sobre o papel do profissional de moda como agente de transformação. Para a estudante Ketruyn Arend, do terceiro período, o projeto se tornou uma celebração das histórias contadas, vividas e compartilhadas, por ela e pelas crianças.

“O meu projeto se chama ‘Trevolares’, e carrega tanto os módulos criados pelas crianças quanto os meus próprios, unidos por retalhos de jeans e tecidos variados feito todo em formato quadrado, remetendo à estética da sulanca”, conta. 

O projeto de Ketruyn é intitulado Trevolares e reconecta-se com sua infância.

Onde a roupa deixa de ser vestida e transforma-se em expressão está a essência do parangolé no projeto da estudante. Ketruyn afirma que, na obra, o corpo deixa de ser espectador e passa a ser parte da obra. “Trevolares é um corpo-casa onde a infância ainda respira. Eu escolhi trazer lembranças da minha própria infância, como a fase de procurar trevos de quatro folhas no jardim, o que acredito que toda criança pelo menos uma vez já fez isso. A leveza e o movimento da peça também remetem a uma flor, florescendo como símbolo de memórias que se enraízam e crescem”.

A acadêmica compartilha que, ao desenvolver sua peça, retornou ao passado, aos dias em que estudava em uma escola do interior e também vivenciava o cuidado à natureza. Por este motivo, o contato com as crianças foi sua etapa preferida da produção. “Os módulos criados por eles foram um show de criatividade. É incrível como a inocência das crianças gera ideias tão puras e visuais. Conectar isso com minha vivência e transformar em uma peça foi emocionante e essencial para o resultado final”, expressa.

As obras vestíveis foram apresentadas em dois momentos expositivos: na escola parceira, promovendo o reencontro entre os materiais enviados e suas ressignificações, e no evento Fluxo Reverso, realizado na Unochapecó. A próxima etapa será a exposição na Galeria Agostinho Duarte, prevista para o dia 28/07, ampliando, assim, o alcance sensível e social da experiência.

Durante o processo, ao atuar na resolução de problemas com proatividade, os estudantes demonstraram alta receptividade com a proposta, sublinha o professor. “Vivemos muitas experiências pela primeira vez, uma parceria com uma escola, um laboratório experimental que relacionava moda com arte, tirando-os ainda mais da zona de conforto, trabalhos com autoria compartilhada com as crianças, e até a primeira vez de muitos em um estúdio fotográfico, com suas criações, muitos até sendo os modelos. A turma se mostrou muito profissional, um time que entregou um trabalho de excelência”.

Este foi o primeiro projeto autoral completo de Ketruyn, desde as primeiras ideias, desenhos, recortes, costuras até a fotografia final. Felicidade e satisfação são os sentimentos descritos pela estudante pelo projeto desenvolvido; para ela, foi um período de descobertas. Com sua peça, entendeu que com pouco pode-se fazer muito, e que a moda deve ser sobre histórias, afeto e conexões.

“Aprendemos que a moda não é só técnica, pois tivemos que aprender a escutar, observar, traduzir sentimentos em matéria. E isso é essencial para crescer, evoluir e criar com verdade. Com toda certeza, daqui dois anos, quando eu me formar, vou lembrar com muito carinho desse projeto, e daqui a cinco ou dez anos, até o fim, continuarei a lembrar dele com a mesma felicidade e gratidão”, finaliza.


 

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Texto: Ionara Virmes / Assessoria de Imprensa Unochapecó;

Fotografias: reprodução curso de Moda da Unochapecó.


 

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