Um lugar para desvendar a história

Fazia frio e a chuva acompanhava o clima gelado. Durante o percurso, vento no rosto, sono batendo e lama na estrada. Cerca de 51 quilômetros de distância entre a Unochapecó e o Instituto Goio-En, organização mantida pela Fundeste, não impediram que a aventura deixasse de ser vivida. Ao chegar no local, onde a descoberta e a pré-história são assuntos recorrentes, foi possível conhecer um pouco mais sobre o universo da arqueologia, idealizado pelo Centro de Memória do Oeste Catarinense (Ceom).
Em meio a pedras, pedaços de lanças e outros materiais deixados por antepassados, pesquisadores se reúnem para demarcar e descobrir mais sobre os 'povoamentos pré-históricos do Alto do Rio Uruguai'. A missão que leva esse nome iniciou em 2013 e envolve estudiosos de diferentes partes do mundo. É o caso do francês Pierre Santon, que no início de maio chegou em Chapecó para se unir aos demais. Mestrando em Pré-História do Museu Nacional de História Natural, localizado na França, o estudante não esconde o prazer de fazer parte dessa equipe de arqueólogos. Para seu projeto, Pierre fará uma análise das lascas que foram produzidas a partir das rochas vulcânicas locais utilizadas pelos povos que viveram na região. "A minha pesquisa de mestrado envolve a pré-história e eu ouvi falar dos estudos que aconteciam aqui, sobre o conjunto arqueológico da pedra lascada", comenta o estudante francês. Os materiais encontrados por Pierre e pelos demais pesquisadores datam de diferentes momentos históricos, que vai desde grupos que viveram há 500 anos até grupos de 10 e 11 mil anos atrás.
Além de pesquisadores brasileiros e franceses, a missão reúne estudiosos da Itália, do Canadá e da Rússia, interessados na temática. Ao longo da pesquisa, diferentes materiais foram encontrados, entre eles pedaços de cerâmica Guarani, pontas de flechas, pedaços de carvão e ossos. Todos os materiais são limpos e entregues ao acervo do Ceom para catalogação.
Assim como Pierre, a italiana Giulia Marciani, doutora em Pré-História, também veio de fora para participar das escavações. O interesse em participar dessa missão surgiu devido à importância internacional que o sítio possui. A pesquisadora já está em sua terceira semana de escavações.
Em meio às mesas cheias de materiais históricos, corpos debruçados e olhos atentos, Giulia nos explicou como o processo de documentação dos materiais ocorre e nos contou como foram descobertos os cinco pontos de escavação hoje existentes. Devido à constante chuva do dia, não conseguimos ir até esses locais, para aprender na prática como o trabalho de descobrimento da história acontece. A tarde avançava para o fim e o cheirinho de comida tomava conta do local. A janta estava próxima para eles, que começaram a aventura cedo.
Para nós, era um aviso que estava na hora de voltar. Embarcamos no carro com os rostos sorridentes, pois o dia rendeu boas experiências e também com uma promessa de retornar em breve.
Ceom
Chapecó e região possuem uma rica história cultural. Com o crescimento das indústrias e os processos de urbanização crescendo cada vez mais, alguns objetos dessa memória acabaram se perdendo. Na década de 80, a conservação desse patrimônio cultural já existia, mas era bastante reduzida. Percebendo a necessidade de conservação desses itens e de sua promoção para a comunidade, a Fundeste criou, em 1986, o Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina (Ceom). As atividades funcionam como um programa de pesquisa e extensão, onde a restauração e conservação da história ajudam a contribuir com o desenvolvimento regional.
Atualmente, a principal área de trabalho do Ceom se encontra no sítio arqueológico localizado na cidade de São Carlos. O lugar foi descoberto durante a construção da usina hidrelétrica, quando as máquinas começaram a interferir no curso do rio e esse começou a corroer a encosta. Com isso, alguns objetos começaram a aparecer e os funcionários da empresa entraram em contato com o Ceom. Depois disso, os pesquisadores estudaram o local e perceberam uma valiosa história local. Desde 2013, as escavações acontecem e diversos objetos já foram analisados. Entre eles, o achado mais significativo foi uma urna funerária. Ela foi encontrada em dezembro do ano passado e, segundo os estudos dos arqueólogos, aparenta ter mais de 400 anos.
Instituto Goio-En
Resgatando as origens do tupi-guarani, a palavra Goio-En significa 'muita água' ou 'o que vem do rio fundo'. O nome foi escolhido por causa da região do Goio-En, que faz divisa com os Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Instituído pela Fundeste em 2013, as ações do projeto buscam conscientizar a população sobre a responsabilidade ambiental e o compromisso com o desenvolvimento da comunidade. Com sede localizada em Águas de Chapecó, junto às escavações do Ceom, o Instituto desenvolve ainda dois projetos: estudos dos peixes e educação ambiental.
Piraqué
O Instituto Goio-En atua também na preservação dos peixes migradores do Rio Uruguai, por meio do projeto Piraqué. Na língua indígena tupi-guarani, 'pira' significa 'peixe', e 'qué' refere-se a 'cuidado e atenção'. O projeto que leva esse significado conta hoje com parcerias do Ministério da Pesca e Aquicultura, da Foz do Chapecó Energia, da Fundeste, da Unochapecó e dos municípios de São Carlos e Águas de Chapecó. Mais do que desenvolver pesquisas e tecnologias, o Piraqué busca atuar na capacitação de pescadores, produtores e ribeirinhos da região.
*Estagiárias, sob a orientação de Greici Audibert.
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